Energia
Seca no Sul, água vertendo na Itaipu
16/04/2008
Quem ainda não viu o vertedouro aberto este ano deve se apressar – a cena clássica da água jorrando abundante está com os dias contados. É o que informa a equipe de Operação do Sistema, de Itaipu, baseada em informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O vertedouro deve funcionar por mais esta semana; depois, só no fim do ano. Mas a abundância de água, que é vertida desde 28 de março, levanta uma questão: como pode ‘sobrar’ este recurso na Itaipu enquanto toda a região do lago passa por um forte período de seca?
A Itaipu reflete, portanto, mais as condições de chuvas do Sudeste e Centro-Oeste do que as da região onde se localiza. Os outros 18%, ou 147 mil km2, pertencem à chamada bacia incremental, ou seja, à área das bacias e microbacias ao redor do lago. “Dependemos mais da água que vem do próprio rio do que da água das chuvas na região do reservatório”, diz Favoreto. Ele compara o Rio Paraná ao Nilo. Assim como o gigante rio africano serpenteia por áreas de deserto, onde não chove nunca, o Rio Paraná recebe água de regiões distantes.
O abrir e fechar das comportas do vertedouro depende, assim, da vazão das usinas a montante, isto é, acima de Itaipu. Nessas usinas, verter ou armazenar água depende de decisões do ONS, que se baseia em dados meteorológicos e no histórico de vazão dos rios. Uma vez por mês, o ONS promove uma reunião dos agentes do sistema, o Programa Mensal da Operação (PMO), que define as diretrizes de operação das usinas. Tais diretrizes são revisadas a cada semana.
Com as chuvas de fevereiro e março na Região Sudeste, as usinas a montante liberaram excedentes de água, que até agora estavam sendo vertidas por Itaipu. Agora, sob a baqueta do ONS, uma a uma as usinas estão fechando os vertedouros. Em poucos dias, Itaipu deixará de ter excedentes e também descerá as comportas de seu vertedouro.
Efeitos da pequena menina
A seca na Região Sul e as enchentes no Norte e Nordeste, que o Brasil enfrenta hoje, são provocadas pelo fenômeno La Niña – o esfriamento abrupto das águas superficiais do Oceano Pacífico. Segundo Mário Sérgio Fernandes, da Divisão de Estudos Hidrológicos e Energéticos, apesar da ocorrência de chuvas nos últimos dias, a seca deve permanecer por mais algum tempo na região.
“La Niña chegou por volta de novembro do ano passado. A tendência é que ela vá se dissipando, mas mantenha sua influência por mais alguns meses”, disse, baseado em dados do Simepar - Sistema Meteorológico do Paraná.
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