Líder mundial na geração de energia limpa e renovável

Energia
Aumentar a produção e o acesso à energia limpa é urgente
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20/05/2013

Se o homem é um animal “energívoro”, um ser insaciável por energia elétrica, como define  Cícero Bley Júnior, superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, de nada vai adiantar impor restrições rígidas de consumo, como voltar ao tempo em que a única alternativa era recorrer ao uso de velas e lampiões para se ter luz em casa. Mas é necessário se preparar para um futuro em que o consumo será cada vez maior e a oferta de energia cada vez mais escassa.
   
Bley Júnior foi um dos participantes do evento Planeta Sustentável 2013, da Editora Abril, realizado pela primeira vez em Foz do Iguaçu, no Hotel das Cataratas, entre quarta-feira (15) e sábado (18).
  
A avaliação do superintendente foi compartilhada pelos demais especialistas participantes do encontro. Segundo o diretor do Planeta Sustentável, Caco de Paula, a urgência de se buscar uma solução para a questão energética foi a principal semente deixada pelo evento. “A discussão em Foz vai ajudar a construir a narrativa que o tema precisa”, afirmou.
  
Mas não basta apenas gerar mais energia renovável e limpa. Fazê-la chegar a quem precisa é outro desafio primordial. Segundo o gerente da Fundação Avina, Paulo Rocha, palestrantes de um dos painéis, não adianta ter uma ampla matriz energética se há pessoas sem acesso à energia.
  
Durante a edição local, profissionais nas áreas de energia, meio ambiente e negócios, brasileiros e estrangeiros, apresentaram projeções, oportunidades de negócios e cases bem-sucedidos do uso produtivo de energia e de experiências adotadas com fontes não convencionais para a produção de energia e renda.
  
Reeducar
      

Em sua palestra, Bley Júnior afirmou que é preciso reeducar a sociedade e o próprio setor elétrico (em relação ao tema) o principal responsável pela emissão de gases de efeito estufa (GGE), para que as fontes energéticas sejam diversificadas e exploradas da forma mais eficiente.
  
Nem todos os países têm o privilégio como o Brasil de dispor de uma matriz energética que tem como principal base a hidreletricidade, energia limpa e renovável.
  
Sem esse potencial em abundância e um marco regulatório que exija a redução de GGE das nações mais desenvolvidas, o que o futuro nos reserva no que se refere à universalização da energia? Os Estados Unidos, ao lado da China, lideram as emissões mundiais de gases estufa, oriundas principalmente da queima de carvão para a geração de energia.
  
O evento e Itaipu
  

De Foz do Iguaçu, o Planeta Sustentável segue para outras cidades levando um rico acervo de informações sobre o tema. As Cataratas do Iguaçu e a usina de Itaipu foram os cenários escolhidos para a expedição, que incluiu apresentação de painéis técnicos, visitas guiadas, sobrevoo nas quedas e passeio de Katamaram pelo Lago de Itaipu.
  
De Itaipu, além de Bley Júnior, ciceronearam o grupo o diretor de Coordenação, Nelton Friedrich, e o superintendente de Comunicação Social, Gilmar Piolla.
Itaipu é parceira do Planeta Sustentável na realização do evento e na versão em português do livro “Corporação 2020”, de autoria do economista indiano Pavan Sukhdev, que proferiu a palestra magna, na abertura do encontro, na quarta-feira à noite, no Hotel das Cataratas.
   
Cícero participou ativamente das discussões e apresentou o painel “Viabilidade das fontes não convencionais de energia”. Na sexta-feira, penúltimo dia do grupo em Foz, Friedrich falou sobre o Programa Cultivando Água Boa durante visita guiada dos participantes. O trabalho de gestão compartilhada das microbacias na região da Bacia do Paraná 3 chamou a atenção dos especialistas.
   
Para Bley Júnior, o evento representou uma síntese do pensamento sobre energia no País. “Com certeza, no Planeta Sustentável ficou depositado um acervo considerável de boas ideias”.
  
E complementou: “Tomara que, a partir dessa experiência, possamos atingir um número ainda maior de pessoas”, disse, referindo-se à expertise da Editora Abril, que reúne um conglomerado de publicações, com possibilidade de disseminar esses conteúdos.
   
Durante sua apresentação, Bley Júnior disse que as externalidades que podem ser vistas na Itaipu Binacional, ou seja, os benefícios que ela traz à sociedade, e em especial à comunidade do seu entorno, ocorreram com maior ênfase a partir da mudança de missão da empresa, em 2003, quando o presidente Lula foi eleito e nomeou Jorge Samek para tocar a empresa com outro olhar, aberto à comunidade e preocupado com a sustentabilidade. Hoje, a política de sustentabilidade de Itaipu está dentro do modelo proposto pelo economista indiano Pavan Sukhdev.
   
Em relação à energia elétrica, além de contribuir de forma sistemática para garantir a segurança energética do Brasil e do Paraguai, com seus sucessivos recordes de geração, Itaipu também desenvolve projetos de energia não convencional.
      
O Condomínio Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon, e a Granja Colombari, em São Miguel do Iguaçu, ambos no Oeste do Paraná, são considerados exemplos de sucesso. Nas duas propriedades foram instalados biodigestores. A ideia é simples, mas o processo iniciado na região, com a parceria dos atores envolvidos e a mudança de cultura, é considerado revolucionário e já recebeu a chancela dos maiores especialistas do mundo.
       
Os dejetos da criação de suínos são utilizados para fornecer eletricidade para essas propriedades, que, além de suprirem suas necessidades energéticas, produzem excedente para alimentar a rede pública, administrada pela Companhia Paranaense de Energia (Copel).
       
Universalização da energia
  
  
Outro tema debatido foi a universalização da energia. O Brasil é o país que mais deve contribuir para que a América Latina atinja a meta preconizada pela ONU de chegar até 2030 sem exclusão elétrica. O acesso universal à energia elétrica impõe vários desafios, entre eles, financiamento e inovação.
     
Ainda em pleno século 21, mais de 20% da população mundial, ou seja, 1,4 bilhão de pessoas, não têm acesso à eletricidade, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Na América Latina, o problema atinge 31 milhões de pessoas. A situação é mais crítica na África Subsaariana – região ao Sul do Saara, que corresponde a 75% do continente. Junto com a Ásia subdesenvolvida, a área abriga 95% da população mundial que ainda vive no escuro.
     
Essa população também está concentrada em áreas rurais, que respondem por 84% dessas pessoas. Um dos caminhos sugeridos pela IEA é o uso de instalações offgrid – fora da rede – e minigrid – com a montagem de redes de pequeno porte – para levar a luz a locais isolados. Para os especialistas do órgão, essas soluções vão demandar US$ 19 bilhões ao ano até 2030.
    
Segundo Paulo Rocha, ampliar o acesso à energia é outro desafio urgente.
     
Mas de que tipo de inclusão elétrica está se falando? Para Rocha, a inclusão elétrica pode ser dividida em dois níveis. No primeiro, que atenda às necessidades humanas básicas de consumo; e o segundo, ao de seu uso produtivo.
   
“Não adianta colocar luz numa área isolada e ir embora. A energia elétrica precisa chegar ao local como uma alavanca de crescimento”, afirma.
Para que o acesso universal seja garantido na América Latina, é necessário vontade política, financiamento, envolvimento do setor privado e disseminar informações consistentes de oportunidade e inovação, define Rocha.
      
Gás no EUA
      

Os Estados Unidos estão vivendo um fenômeno aparentemente paradoxal. Com o grande potencial de gás de xisto em seu território, o governo americano poderá alavancar a economia local, ajudando a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, vilões do aquecimento global.
   
De acordo com o especialista Ricardo Brandão, o governo dos EUA concedeu este ano a primeira licença para exportar gás. Na fila estão mais de 21 pedidos de licença para exportação no país. O caminho para a expansão do setor ainda é indefinido.
  
E isso porque os ambientalistas questionam a segurança da tecnologia de fraturamento hidráulico que, por ser nova, reserva efeitos danosos para o meio ambiente, como contaminação do solo e água, e outros ainda desconhecidos.
  
Na outra ponta, a própria indústria faz lobby contrário à exportação de gás do país, a fim de evitar o aumento do preço do gás no mercado.
  
Segundo o pesquisador, essa fonte, que há mais de dez anos vem sendo desenvolvida nos Estados Unidos, apresenta-se como alternativa abundante, mais barata (em relação às renováveis) e com menor emissão que o carvão, fonte que hoje supre 45% da demanda energética americana.
  
"A redução de emissões na indústria do carvão é a maior oportunidade para mitigar sem custos excessivos. Esta tendência deve ser capitaneada pelos EUA devido ao barateamento do gás no mercado interno".
  
O gás natural é uma fonte de energia de origem fóssil, mas tem menos emissão do que seus pares.