Líder mundial na geração de energia limpa e renovável

Energia
Altino Ventura Filho faz panorama do setor elétrico no 23º SNPTEE
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19/10/2015

Quatro décadas depois dos quatro maiores eventos que mudaram a questão energética do mundo, o planeta ainda vive seus efeitos. E suas consequências deverão ainda continuar por muito tempo. A declaração é do secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho.

O engenheiro eletricista, que também foi diretor técnico de Itaipu, fez uma comparação do panorama atual energético com o cenário dos anos 1970, na palestra magna Desafios e oportunidades do setor elétrico brasileiro a pequeno, médio e grande prazo, na abertura do 23º Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica (SNPTEE), o maior de todos os tempos. O evento começou neste domingo (18) e prossegue até quarta-feira (21), com os maiores especialistas do setor, em Foz do Iguaçu (PR).

Para Altino, os quatro episódios que têm impacto direto, hoje, nas matrizes energéticas, são a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizada em Estocolmo (Suécia), em 1972; as crises do petróleo de 1973 e de 1979, quando o valor do barril subiu rapidamente em poucos dias; e os acidentes com as usinas nucleares de Three Miles (1979), Chernobyl (1986) e Fukushima (2011).

Ainda na apresentação, o secretário falou sobre planejamento e políticas energéticas, atuação das agências reguladoras, expansão do sistema elétrico, financiamento do programa de expansão, operação do sistema elétrico, comercialização de energia. Itens nos quais, segundo Altino, estamos indo bem.

Mas, e o que precisamos melhorar para sermos mais eficientes? O secretário responde: desenvolvimento tecnológico, integração da indústria com a universidade, formação e treinamento das equipes do setor energético, integração elétrica e energética com os países vizinhos e outras ações internacionais, além da diversificação das fontes de energia.

Segundo Altino, a melhor maneira de refletir sobre o setor é olhar as matrizes de oferta. “Não se muda uma matriz de uma hora para a outra. Chegamos hoje a uma matriz energética favorável em vários aspectos sustentáveis com planejamento. Enquanto o mundo tem poucos recursos limpos e renováveis, o Brasil tem bastante a explorar nessa área”.

Panorama

A geração de eletricidade, no Brasil, é uma das mais limpas do planeta. Do total da capacidade instalada, de 135 mil megawatts, apenas 26 mil correspondem à energia produzidas por usinas de termeletricidade. Isto corresponde, portanto, a menos de 20% do total.

A hidroeletricidade, energia limpa e renovável, corresponde a 66% da matriz elétrica brasileira. E outras fontes limpas, como a eólica, estão em franco crescimento. Só para comparar, em 2008 a geração eólica era de apenas 247 MW. Em 2015, saltou para 5.833 MW, um crescimento de 2.261%.

Outra fonte renovável que cresceu muito, nos últimos sete anos, foi a geração a partir da  biomassa. No total, passou de 4.193 MW em 2008 para 12.415 MW em 2015, um aumento de 196%.

Já a geração solar, que ainda tem um custo muito alto de implantação, começa a aparecer no sistema elétrico brasileiro. Não havia geração nenhuma em 2008, agora já aparece com 15 MW, claro que um porcentual ainda insignificante, mas sinaliza uma possibilidade para o futuro.

O Ministério de Minas e Energia prevê que, de 2015 a 2018, o Brasil irá contratar mais 31.500 MW de potência, dos quais quase 85% correspondem à geração de energias renováveis.

Para 2024, previsão é chegarmos com um crescimento médio anual de 10% na geração por eólicas, pequenas centrais elétricas, termelétricas a biomassa e solar, passando de 20,9% de participação dessas fontes no parque de geração do sistema elétrico brasileiro, em 2018, para 27,3%, em 2024. E os próximos passos do planejamento continuarão mirando as metas assumidas em setembro junto à Organização das Nações Unidas.

Pelo seu gigantismo, o potencial brasileiro para a produção de energia elétrica tem características regionais fortes. Nas regiões Nordeste e Sul, por exemplo, há um maior potencial para a geração eólica; a biomassa tem maior potencial no Sudeste e Centro-Oeste, onde estão as plantações de cana de açúcar; e no Norte estão os grandes aproveitamentos hidrelétricos que ainda podem ser explorados, como as hidrelétricas do Rio Xingu, do Rio Madeira e do complexo Tapajós.

As novas usinas hidrelétricas que serão construídas na Amazônia representam uma grande evolução com relação ao respeito ao meio ambiente e às populações em geral, especialmente aos indígenas. Quando surgiu o projeto de Belo Monte, no Rio Xingu, a previsão era serem construídas seis usinas, com quase 20 mil km² de reservatório. Ao longo dos anos, o projeto foi sendo adaptado à legislação ambiental, que se tornou mais rígida no Brasil, a tal ponto que o reservatório diminuiu para apenas 3% do que era previsto anteriormente.

O reservatório, agora, ficou com apenas 478 km², sendo que a metade disso é a calha do próprio Rio Xingu. Houve perda de potencial energético com esse encolhimento, mas esse é o preço que precisamos pagar para reduzir os danos ambientais ao mínimo possível e acabar com os conflitos.

E isso vale para os novos projetos. As usinas só são aprovadas se apresentarem planos ambientais consistentes, com compensações, e tanto os projetos como as obras sofrem fiscalização rigorosa. Os empreendimentos têm que seguir os Princípios do Equador, que são exigências de interlocução com a comunidade e de respeito às pessoas e ao meio ambiente. Sem isso, os bancos não financiam as obras. Além disso, há a própria pressão da sociedade.

Com os novos empreendimentos hidrelétricos, somados aos investimentos em linhas de transmissão, a meta do governo brasileiro é chegar a 2018 com um sistema elétrico ainda mais robusto, com custos declinantes e tarifas competitivas internacionalmente.

E a Itaipu Binacional faz parte desse processo. Embora seu projeto seja de uma época em que a preocupação ambiental era praticamente nula, a usina sempre deu atenção a essa questão. Desde 1979, quando o reservatório da usina foi formado, já foram plantados mais de 44 milhões de mudas nas margens brasileira e paraguaia da usina. É o maior programa de reflorestamento do mundo já feito por uma hidrelétrica.